terça-feira

LIVRO - Relato de Um Náufrago


Relato De Um Náufrago que esteve dez dias á deriva numa balsa, sem comer nem beber, que foi proclamado herói da pátria, beijado pelas rainhas da beleza, enriquecido pela publicidade, e logo abandonado pelo governo e esquecido para sempre, é um dos livros de Gabriel Garcia Marquez menos lidos sendo, no entanto, fundamental a sua leitura para a compreensão do homem e da sua obra. Trata-se da edição em livro de uma série de reportagens que foram publicadas no El Espectador, de Bogotá, em 1955.

O livro pode ser descrito como a história de uma história. Trata-se da narrativa real do sobrevivente do naufrágio do destroyer Caldas, da marinha colombiana, ocorrido em fevereiro de 1955. O navio viajava dos Estados Unidos para o porto colombiano de Cartagena e os oito tripulantes teriam desaparecido durante uma tormenta no mar do Caribe. Ao final de quatro dias de buscas os marinheiros foram declarados oficialmente mortos, mas, uma semana depois, um deles apareceu moribundo numa balsa à deriva no mar ao norte da Colômbia. Luís Alexandre Velasco, o sobrevivente , foi praticamente seqüestrado pelas autoridades colombianas e impedido de falar sobre o ocorrido, a não ser para jornalistas ligados ao regime militar e para um jornalista da oposição , que se disfarçou de médico para poder entrevistá-lo. A Colombia vivia nesse momento sob a ditadura militar do general Gustavo Rojas Pinilla. Após ter sido mantido internado num hospital militar por várias semanas, Velasco procura espontaneamente a redação do jornal El Espectador para contar a sua versão dos fatos. Até então acreditava-se na versão do acidente divulgada pelo governo que tornava Velasco um herói nacional, condecorado e proclamado como exemplo a ser seguido pelas futuras gerações. Seu relato, no entanto, traz à tona uma outra história: não houve tormenta, o destroyer levava uma carga de contrabando que, com o mar agitado, soltou-se e arrastou consigo os marinheiros. A história, dividida em episódios, foi publicada durante quatorze dias consecutivos e, nesse período, os militares fizeram de tudo para impedir sua divulgação. Não conseguiram pois o interesse pela história tomou proporções gigantescas e o jornal viu a sua circulação dobrar em pouco tempo. Apesar de todas as pressões, Velasco manteve seu relato inalterado e uma semana após a divulgação da história, o jornal lança um suplemento especial com fotos tiradas antes do naufrágio exibindo um grupo de marinheiros posando com caixas de mercadorias, inclusive com as marcas dos produtos. Foi o golpe final numa história que transformou um marinheiro em herói, imagem essa que foi posta abaixo pelo próprio Velasco.

Luis Alejandro Velasco Rodríguez deixou a Marinha e começou a trabalhar no sector privado, começou com trabalho em uma empresa de ônibus mas finalmente se estabeleceu em trabalhar como representante comercial em uma companhia de seguros, em Bogotá. Ele morreu em Bogotá em 02 de agosto de 2000, aos 66 anos. Gabriel Garcia Maquez havia lhe cedido os direitos autorais da historia no ano da publicacao da historia em livro, 1970.




O livro recebe censura por parte do regime de Rojas Pinilla e García Márquez parte em exilio.

Foto tirada por Patrick Curry.